A arte rupestre do atual território angolano é desconhecida da maior parte dos especialistas lusófonos e francófonos. É esse desconhecimento que Manuel Gutierrez, professor emérito da Université Paris 1 Panthéon Sorbonne, visa combater com este belíssimo livro bilingue de francês e português.
“L’Art Rupestre d’Angola, entre mythes, croyances et créations artistiques” (Éditions l’Harmattan) dá a conhecer ao leitor a riqueza patrimonial angolana e os sítios arqueológicos pré-históricos que se espalham por todo o território, principalmente no sul. Uma lista que, desde a descoberta do sitio da Pedra do Feitiço por navegadores ingleses em 1818, não para de crescer. Hoje, Angola conta com 54 sítios de Arte Rupestre.
É evidente que os primeiros europeus a chegarem ao atual território logo entraram em contacto com a arte dos antepassados dos povos locais, embora as tenham imediatamente desvalorizado, não fossem eles “navegadores, militares, comerciantes, religiosos, cujos objetivos não estavam ligados à ciência, mas sim ao comércio, ao enriquecimento pessoal e à expansão da presença europeia em África”. O autor acrescenta que a visão portuguesa da arte e da cultura dos povos que eles encontraram no atual território angola não passava da “projeção da sua mentalidade, dos seus preconceitos sobre as terras e as populações que descobrem”.
Na verdade, as “Crónicas” portuguesas da época são geralmente pejorativas em relação à arte dos povos africanos ou quase sempre a ignoram. Nessas primeiras publicações que resultam dos contactos inaugurais entre portugueses e “angolanos” pouco se escreveu sobre as sociedades africanas, as suas vidas e crenças, a sua vida intelectual e as suas criações artísticas.
Por esse motivo, garante o autor, o investigador moderno deve “observar e decifrar as figuras pintadas ou gravadas nas superfícies rochosas, essa é a primeira etapa da investigação, sendo depois necessário recolher informações junto das populações atuais para saber se os vestígios do passado ainda estão presentes nas suas vidas”. Um estudo possível graças à etnologia e à história das religiões antigas. “É preciso utilizar o que estas duas disciplinas nos dizem sobre as crenças e as religiões antigas para tentar estabelecer um paralelismo entre estes dados e certas figuras ou cenas gravadas nas rochas”.
Uma obra necessária para valorizar a arte rupestre africana que, ao longo de meio milénio de colonialismo, foi considerada como uma “arte de segunda categoria” realizada por povos “incivilizados”.