As línguas angolanas são faladas por diferentes grupos etnolinguísticos distribuídos geograficamente pelo país. A classificação e distribuição das línguas em Angola segue modelos de distribuição étnica no país. A título de exemplificação, Kajibanga (2003) propõe, a partir de uma perspectiva endógena, a existência de três “espaços socioculturais” que não se restringem aos limites territoriais e políticos:
- Khoisan ou Hotentote-Bochimane
- Vátwa Ou Prá-Bantu
- Bantu
Os espaços socioculturais Khoisan incluem os Kede, Nkung, Bochimanes e Kazama; os Vátwa agregam os Cuissis e Cuepes; e os Bantu incluem os seguintes agrupamentos: Ovibundu (Umbundu), Ambundu (Kimbundu), Bakongo (Kikongo), Lunda-Tucôkwe (Ucokwe), Ngangela, Ovambo, Nyaneka, Nkumbi, Helelo, Axindonga e Luba.
Tais classificações contam com o aspecto linguístico como critério de agrupamento étnico e cultural. Contudo, mesmo este critério não é uniforme e homogêneo, pois se apoia em um conceito estrutural de língua que por vezes não considera as práticas comunicativas entre os sujeitos.
Para uma classificação das línguas de Angola, são apresentadas a seguir duas abordagens vinculadas entre si.
Daniel Sassuco, Coordenador e Professor do Departamento de Línguas Angolanas da Universidade Agostinho Neto, propõe que a situação etnolinguística de Angola pode ser resumida da seguinte maneira: a língua umbundo é falada pelo povo Ovimbundu; a língua kimbundu é falada pelo povo Ambundu; o grupo Bakonko fala a língua kikongo; os Tucokwe falam cokwe; e a língua kwanyama é falada pelo grupo Vakwanyama. Esta última língua é falada da região do Cunene. O grupo Vangangela fala a língua ngangela.
Segundo Nzau (2011), a realidade linguística de Angola inclui grupos linguísticos bantu e não bantu, entre os quais:
- Khoisan, que inclui as línguas kankala e vakankala. Variantes dessas línguas são as seguintes: kankala, hotentote, kazama, kasekele e kwankala.
- Bátua, que inclui as línguas kwisi e kwepe.
A matriz linguística bantu é predominante em Angola. Estatísticas gerais revelam que em África existem mais de 600 línguas bantu faladas contemporaneamente. Em Angola, elas se distribuem por três zonas (Nzau, 2011):
- No norte e nordeste do país são faladas as línguas kimbundu (da etnia mbundu) e kikongo (da etnia bacongo). Em termos históricos, o kicongo foi a língua do antigo reino do Congo e o kimbundu do reino do Ndongo.
- No leste do país, a língua cokwe é falada pelos Lunda-Cokwe, e a língua ngangela é falada pelos Ovingangela.
- No centro-sul estão localizados uma série de grupos etnolinguísticos, entre os quais: Ovimbundu, “Ocindonga”, Owambo, Nyaneka-Humbe, Ovingangela e Herero. Na parte sul o umbundu é a língua mais falada, seguida pelas línguas nhaneca, herero, kwanyama e cindonga.
A distribuição geográfica e étnica das línguas, contudo, deve ser vista de forma mais complexa e menos estática. Por exemplo, algumas línguas destas sofreram processo de dialetização, como o kikongo que originou as variedades linguísticas fyote/ibinda, faladas em Cabinda (Nzau, 2011). Além disso, o mapa etnolinguístico apresenta um panorama geral e ilustrativo, devendo ser considerado comparativamente em relação aos usos linguísticos locais. Tais usos compreendem realidades muitas vezes multilíngues e de misturas e cruzamentos linguísticos, especialmente em regiões fronteiriças.
Paralelamente às línguas angolanas, é preciso considerar o percurso histórico – colonial e pós-independência – da língua portuguesa em Angola. Atualmente, ela tornou-se majoritária, sendo que o número de falantes de português como língua materna tem crescido sistematicamente, fruto da política linguística de oficialização do português. Contudo, é preciso considerar que a língua portuguesa falada em Angola sofreu influências das línguas africanas, apresentando particularidades discursivas, pragmáticas, sintáticas, lexicais, morfológicas, fonológicas e prosódicas, conforme descritas pela linguista Amélia Mingas na obra Interferência do Kimbundu no português Falado em Lwanda (2000).
Por fim, percebe-se que a realidade linguística de Angola é complexa e rica, envolvendo atitudes políticas, acadêmicas, institucionais e locais de valorização das línguas africanas em paralelo com a crescente expansão do uso da língua portuguesa. A construção de escolas bilíngues e o uso de línguas angolanas na mídia de massa são exemplos de promoção do multilinguismo em Angola. Políticas de defesa e valorização da diversidade tornam-se possíveis quando são efetivamente sensíveis às práticas linguísticas locais de uma sociedade multiétnica, multicultural e plurilíngue.
KAJIBANGA, Víctor. Sociedades étnicas e espaços socioculturais. Comunicação apresentada no colóquio científico Angola, 25 anos de independência: Balanço e perspectivas. Moscovo, Casa Editorial Lean, 2003.
NZAU, Domingos Gabriel Ndele. A Língua Portuguesa em Angola: Um Contributo para o Estudo da sua Nacionalização. Tese de doutorado. Universidade da Beira Interior, Departamento de Letras (2011). Disponível em <http://www.adelinotorres.com/teses/Domigos_Ndele_Nzau.pdf>.